terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sonho de orquestra

Ok, ok... não precisava ter visto esse filme pra descobrir que não posso saber o que é bom para o outro ou para os outros. Na verdade, mal sei o que é bom para mim! Não sei se bom é o que me conforta, o que combina comigo, o que encaixa com minha maneira de pensar, ou se é justamente o contrário: o que me desconforta, o que me é estranho, absurdo, insano, errado ou o que não encaixa com nada que eu pense, sinta, deseje.

“O solista”. História verídica com dois atores ótimos: Robert Downey Jr (que eu amo há tempos) e Jamie Foxx. Engraçado pensar que adoro o Downey Jr, esse cara que – se meu camarada fosse – seria pra mim estranho, absurdo, insano, errado. Como ator, ele sempre me tira do conforto do esperado, do conhecido, do sabido.

Perder a sobriedade e, ao mesmo tempo, me sentir tão lúcida é uma experiência única que só a arte pode proporcionar. Seja por meio do teatro, da música, da literatura, do cinema.

Me sinto entorpecida sem ter fumado um. Me sinto embriagada sem nem sequer um gole de álcool. Me sinto inquieta sem nem imaginar o que é aspirar uma carreira (aspirar a uma carreira, sim, sempre! rs).

E a arte me faz pensar que talvez eu precise aprender a deixar quem eu amo a fazer a merda que quiser. Posso continuar amando as pessoas, mesmo quando fazem merda. E pode ser que eu deva amá-las à distância. Assim não exijo delas coerência e condutas saudáveis – a meu ver, claro! Assim não exijo de mim tolerância com o que para mim é, possivelmente, intolerável.

Talvez seja isso que eu tenha feito minha vida toda. Talvez por isso continue a amar as pessoas que cruzaram meu caminho. Apesar de sempre próximas, elas não fazem mais parte do meu dia a dia egoísta, que precisa do afastamento para alcançar o equilíbrio necessário a aceitar e ser feliz com o que a vida me oferece.

Talvez por isso, tenham passado por mim tantos solistas loucos – quem não é? – e suas loucuras particulares e originais. Solistas que amei, que amo. Solistas que funcionam melhor em carreira solo, realmente...

Enquanto eu... Eu amo as orquestras! Suas cordas, seus metais, seus tambores e até seus spallas! Talvez seja um desejo secreto de ser maestrina e poder regê-los todos em harmonia.

Mas será que o dom do maestro é mesmo conduzir tantos talentos? Ou seu talento é deixar tocar alto o dom de cada um? O dom solo. Solista.

Serei até eu mesma uma solista? Não... falta-me virtuosismo! Saber reconhecer talento e beleza já me dá algum mérito. Contento-me com essa habilidade ou preciso aprisionar essas qualidades, me apropriar delas?

Quem sou eu para saber o que precisa um esquizofrênico?! Quem sou eu para saber o que precisa um virtuose?!

Sou alguém que pode ir chateada sozinha para o cinema e sair de lá achando que antes só do que mal amada! Porque mal acompanhada nem é de todo mal, né? (rs)

2 comentários:

Raissa disse...

“Certeza do que eu quero eu não tenho. Eu sei o que eu não quero.” Mersault, “O Estrangeiro” – Albert Camus. Esse é um dos livros que mais mexeu comigo até hoje. Talvez porque fale de alguém tão estranho, e eu tenho uma queda por gente assim. Sempre me aproximei dos excêntricos porque aprendi com um dos melhores, meu pai.
Quase todos (ou todos?) nós temos a mania de achar que sabemos o que é melhor pro outro, ledo engano. A não ser que conheçamos sua história, não podemos opinar na sua maneira de levar a vida. Mal sabemos da nossa. A não ser quando sopra aquele vento de decisão, mas vento que é vento remexe tudo e num instante já não sabemos o que fazer no “round” seguinte. Então fugimos da nossa ventania tentando organizar a das pessoas que estão por perto. Mas eu penso como o Mersault, até porque estamos em constante mudança, daí não há de se querer a mesma coisa sempre. Seguimos sozinhos, porém mal acompanhados principalmente de nós mesmos, só para começar a complicar, já que não sabemos nunca o que virá.

Carla Paes Leme disse...

Que venham os ventos!!!!!!!!! Afinal de contas, gosto de velejar!!!!!!!!