terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Chegar aos 52 anos sem perder a espontaneidade é para os fortes. Diante de tantas decepções, conveniências, zonas de conforto, táticas, além do exercício da tolerância e da compreensão, é fácil a gente se precaver mais do que nossa natureza havia estabelecido como instinto de preservação. Para muitos, o instinto de preservação faz com que se marque território. Para outros, que se tornem mais ariscos e arredios. Meu instinto de preservação é selvagem. Ajo de uma forma num momento, de forma diversa em outra ocasião. Mas a verdade é que meu instinto de preservação se apaixona! Incrível, mas é isso! Meu instinto é de entrega. Uma loucura!

Não gosto de me surpreender cheia de dedos, de melindres com quem minha espontaneidade poderia ser tão bonita quanto querida.

Nas relações profissionais, a espontaneidade nem é bem vista; pelo contrário, pode parecer imaturidade, incômoda, defeito mesmo.

Mas - putz! - ter de medir palavras nas relações afetivas, ter de se preocupar em falar as coisas certas, nas horas certas, é complicado pacas. Isso, além, é claro, de dizer pra pessoa certa. (rs) É complicado mesmo! Pelo menos, pra mim. Espontaneidade pode ser invasiva, pode ser inconveniente. E, assim, perder toda sua beleza.

Presunçosamente, me acho bonita na minha espontaneidade. Porque sinceridade é bela mesmo. Não a sinceridade ofensiva... não aprecio quem magoa o outro em nome da sinceridade. E não gosto de mim quando escorrego nessa sinceridade. Mas a sinceridade bonita vem carregada de bons sentimentos, de boas vontades, de pensamentos felizes, desejos de bem querer, afã de compartilhar ideias, afetos, tesão. Essa sinceridade - que pra muitos pode não ser boa - pra mim é a oitava maravilha da natureza humana. Pois a natureza humana é dada a afetos, e é muito triste quando as pessoas se perdem em ressentimentos, em precauções, em racionamentos...

Sou abundante por natureza, gosto do muito, do largo, do grande, do abrangente, do amplo, do irrestrito, do ilimitado. Sinto muito - no mais belo significado da expressão, não naquele "sinto muito" que lamenta, que pede desculpa.

Represar me engasga, me entope, me afoga. Me faz mal mesmo.

Não sei lidar com contenções, retenções, detenções... E, pra falar a verdade, não sei se deveria.

Hoje li o doutor Drauzio Varella dizendo que "se não quiser adoecer: fale de seus sentimentos".
Então, eu até acho que tô mais no caminho certo do que no errado. Mas posso estar sendo muito egoísta em pensar apenas na minha saúde, nas minhas saúdes - física, mental e emocional. Porque meus sentimentos - quando expostos, declarados em voz alta, anunciados em megafones ou mesmo estampados em palavras em e-mails e outros meios virtuais - podem não ser o que as pessoas desejam ouvir, ler, ter, receber. Ou, às vezes, até poderiam, mas não naquele momento, daquele jeito, naquela situação.

E eu fui escrevendo tudo isso porque me veio essa angústia... Cutuco? Chamo? Saio falando sem pausa?

Mas, agora, falando comigo mesma - minha melhor terapeuta -, me dei conta de que, se eu deixar a espontaneidade de lado, vão gostar de uma pessoa que não sou eu, mas a que desejam que eu seja ou que sonham encontrar. Só que, se eu não sou nada disso, pra que tanto cuidado? O cuidado que eu julgo necessário já tenho. É o cuidado natural do afeto. E afeto eu tenho tanto...

Ah... me deixa dizer que sinto falta, que gosto à beça, que quero mais, que compreensão demais é pros santos (e santa eu não sou! rs), que fico confusa com oscilações entre o muito e o pouco, entre o pleno e o vazio. Essa sou eu. E nem sou tão ruim. Talvez nem tão boa, mas boa o suficiente pra eu gostar de mim. E, se eu gosto, há de alguém ter um gosto parecido com o meu, certo? Você tem?